Bradesco fechará 10% das agências até fim de 2020

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Concorrência maior e economia fraca pressionam balanço

Com a concorrência digital no encalço e um desempenho da economia aquém do imaginado, o Bradesco vai reduzir a rede de agências em quase 10% até o fim de 2020. Depois de encerrar 50 unidades desde janeiro, o banco planeja fechar as portas de mais cem até dezembro e de pelo menos outras 300 ao longo do próximo ano. O Bradesco tinha 4.567 agências no fim do terceiro trimestre.

No curto prazo, a medida é uma das respostas para conter as despesas operacionais, que crescem acima do projetado. De forma estrutural, no entanto, é um passo necessário num contexto de transformação nos serviços financeiros, com a chegada de novos concorrentes e tecnologias. A questão é que o Bradesco não esperava – pelo menos, no discurso – fazer esse ajuste tão rápido.

O banco tinha um visão otimista para a economia neste ano, e chegou a apostar que a reforma da Previdência poderia ser aprovada até março. Além de essa expectativa ter sido frustrada, a instituição tem enfrentado uma competição mais forte em áreas como cartões e investimentos, exploradas por fintechs que, segundo Octavio de Lazari Jr, presidente do banco, “dão trabalho e, em alguns casos, não devem nem mais ser chamadas de fintechs”.

Essas tendências ficaram claras no balanço do terceiro trimestre. O Bradesco teve lucro líquido de R$ 6,542 bilhões em termos recorrentes. A cifra representa aumento de 19,6% em relação ao mesmo intervalo de 2018, mas ficou um pouco aquém das projeções de analistas consultados pelo Valor.

O resultado veio de um bom desempenho no crédito, que compensou receitas de serviços mais fracas que o previsto e forte alta nas despesas. “As despesas se comportaram em níveis superiores, mas já entraram em ritmo de normalização”, disse Lazari ontem, em teleconferência com jornalistas. “No entanto, elas devem fechar o ano acima do guidance.”

Segundo o executivo, a combinação de um novo programa de remuneração variável aos funcionários, acordos em processos trabalhistas e reforço da equipe do banco digital Next provocaram a elevação dos gastos. Em nove meses, as despesas operacionais, que incluem as administrativas e de pessoal, cresceram 7,5%, para R$ 31,895 bilhões, enquanto o avanço estimado estava entre 0% e 4% no ano.

Para atacar o avanço dessa linha, o encerramento de agências promovido até o fim de 2020 deve ser o maior desde a compra do HSBC, em 2016, quando foram encerradas 565 unidades em um ano. A reação vem com um trimestre de atraso em relação aos concorrentes. O Itaú Unibanco fechou 195 agências entre abril e junho. O Banco do Brasil, por sua vez, anunciou em julho um corte de 242 unidades.

Outra iniciativa de redução de custos foi a implementação de um plano de demissão voluntária (PDV) que contava com a adesão de quase 3 mil funcionários até terça e cujo prazo terminou ontem. Embora o público-alvo alcançasse de 8 mil a 9 mil colaboradores, a adesão ficou acima da expectativa do banco.

Enquanto as despesas subiram acima do esperado, as receitas com prestação de serviços cresceram abaixo do projetado, devido à concorrência em áreas como adquirência e investimentos. As receitas com prestação de serviços somaram R$ 8,423 bilhões no terceiro trimestre, avanço de 3,7% ante igual período do ano passado. Em nove meses, o avanço de 2,5% está abaixo do guidance, entre 3% e 7%. O banco acredita que o indicador vai ficar no piso do intervalo.

As receitas devem começar a reagir, segundo Lazari, com a retomada mais forte da economia, a atração de clientes e o avanço do volume de negócios. “Em receitas, dias melhores devem vir”, afirmou o executivo a analistas. Ele ressaltou que nos últimos 12 meses o Bradesco teve incremento de 1,5 milhão de correntistas e que o banco digital Next atingirá 2 milhões de clientes até o fim deste ano.

Mais voltado à concessão de crédito para pessoas físicas e pequenas e médias empresas, o Bradesco teve crescimento da carteira expandida de 3,2% no trimestre e 10,5% em um ano, para R$ 578,317 bilhões. A inadimplência – operações com atraso acima de 90 dias – subiu de 3,2% no segundo trimestre para 3,6% no terceiro, avanço justificado pelo banco por casos específicos de grandes empresas.

O banco deve manter o foco em concessões de crédito a pessoas físicas e empresas de menor porte no próximo ano, uma estratégia que tende a trazer retornos melhores, uma vez que as margens são superiores. No segmento de grandes empresas, a tendência é que elas continuem a recorrer mais ao mercado de capitais.

Com essa estratégia, pelo menos no médio prazo, o Bradesco espera manter o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) acima do patamar de 20% – o indicador fechou o terceiro trimestre em 20,2%, ante 19% de um ano antes -, mesmo com ambiente de queda de juros, que pressiona os spreads, a diferença entre o que o banco paga para captar recursos e ganha para emprestá-los.

Segundo Lazari, os juros mais baixos criam desafios em algumas frentes, mas geram uma oportunidade inédita de captura de negócios no Brasil. Para o executivo, os investimentos que o banco fez ao longo dos últimos anos – aquisições, compra de folhas de pagamento setor público, ampliação de base de correntistas – o tornam pronto para capturar o crescimento que virá daqui para a frente. E nesse momento, segundo Lazari, quem não tiver escala não vai conseguir crescer “a dois dígitos ou a um dígito alto”.

No longo prazo, contudo, num ambiente possível de taxas reais de juro de 1%, é “factível” esperar um rentabilidade menor do que 20% e lucros crescendo abaixo de dois dígitos, disse o presidente do Bradesco.

Fonte: Valor Econômico

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