Setor já respondeu em 2021 por mais da metade de todo o volume de recursos movimentados pelas famílias brasileiras
Os hábitos de consumo no Brasil e no mundo estão em constante transformação, assim como a forma como o consumidor realiza seus pagamentos. Há três anos, a diretoria da Abecs, entidade que há 50 anos representa o setor de meios eletrônicos de pagamento, projetou um cenário de avanço expressivo da participação dos cartões no consumo das famílias pelos três anos seguintes no país. A expectativa era migrar de 38%, lá no início de 2019, para 60%, em 2022.
Ainda estamos no início do ano, com muitos desafios pela frente, porém afirmo com bastante confiança que o objetivo está muito perto de se concretizar. A projeção da Abecs é que o setor tenha encerrado 2021 com 54% de participação no consumo privado, sendo assim responsável, pela primeira vez, por mais da metade de todo o volume de recursos movimentados pelas famílias brasileiras. Anteriormente, em 2020, o indicador havia ficado em 49%.
Mais do que números, na prática isso significa que o uso dos cartões de crédito e débito nunca foi tão difundido na sociedade brasileira como nos dias atuais. O sistema de cartão ocupou, aos poucos, um espaço relevante de meios como dinheiro em espécie, cheque (à vista e pré-datado), boleto, carnê, entre outros. E, nos últimos dois anos, essa substituição ficou ainda mais evidente, já que a sociedade passou por um intenso processo de transformação digital devido à pandemia.
Ao alcançar o patamar de 60% do consumo das famílias neste ano, o setor de cartões deverá ultrapassar a cifra histórica de R$ 3 trilhões em pagamentos, o que representará um crescimento de 21% ante 2021. Por outro lado, segundo dados do Banco Central, o volume de dinheiro em circulação caiu 8,5% no ano passado – primeira queda desde 1994. O uso de cheques caiu 23% em 2021 e está em um patamar 93% menor desde 1995, de acordo com dados recentes divulgados pela Febraban.
Esse processo de substituição de meios de pagamento ajuda a explicar por que o tíquete médio do cartão é relativamente baixo, girando em torno de R$ 85, enquanto o do cheque passa de R$ 3 mil, segundo dados da Febraban, e o do Pix, que substitui principalmente os tradicionais canais de transferências, como DOC e TED, é de R$ 508, de acordo com o Banco Central. Se considerarmos apenas os cartões de débito, o valor médio é ainda menor, de R$ 68.
Já imaginou o mundo hoje sem o processo de modernização dos pagamentos protagonizado pelo sistema de cartões? Provavelmente teríamos números e uma realidade muito diferentes. Não foi por acaso que o brasileiro passou por essa mudança cultural e acostumou-se a usar o cartão em todo tipo de transação, abrindo espaço para inovações atuais como as carteiras digitais, as compras por aplicativo, o pagamento por aproximação e até mesmo o Pix. Existe uma combinação de atributos, como conveniência, segurança e eficiência, patrocinada pela indústria de pagamentos, que entrega valor para o consumidor, para o lojista e para a sociedade.
Não fosse assim, a substituição do dinheiro pelo cartão não chegaria nas diversas camadas sociais, incluindo os microempreendedores individuais, os vendedores ambulantes e as demais atividades em que o uso do papel moeda sempre foi predominante. Hoje, já é possível pagar por aproximação com o cartão no transporte público e em pedágios. A digitalização das transações nesses segmentos é um exemplo de que o cartão gera benefícios a todos os elos da economia, principalmente em comparação com outros meios de pagamento.
As vantagens do cartão nós conhecemos bem: parcelamento e disponibilidade de crédito, segurança de não andar com dinheiro, possibilidade de contestar despesas, pagamento garantido (acaba com o temido cheque sem fundo), programa de recompensa, compras pela internet e aplicativos, pagamento por aproximação, prevenção a contágios, entre muitas outras praticidades.
No fim das contas, é a experiência da jornada do consumidor que torna o cartão tão atrativo frente ao dinheiro e a outros instrumentos. Mais recentemente, as inovações contribuíram para ampliar o escopo de atuação do setor. O pagamento por aproximação cresce a uma taxa perto de 400%. O uso do cartão de crédito no e-commerce já representa mais de 30% de todo o valor transacionado por esse meio de pagamento.
Por fim, a eficiência que o sistema de cartões traz para a sociedade é outro ponto forte, ainda mais para um mercado gigantesco como o Brasil, que realiza mais de 60 mil transações por minuto. Todos esses pagamentos são rastreáveis, diferentemente do dinheiro, o que representa um ganho para a formalização da economia, além de inibir a prática de sonegação, corrupção e lavagem de dinheiro.
Os últimos anos têm nos mostrado a importância das inovações e do mundo digital para o bem-estar da população. O cartão segue cumprindo seu importante papel de incluir financeiramente e democratizar o acesso do consumidor às facilidades dos meios digitais.
Fonte: Valor Economico